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    Pepe Escobar

    Pepe Escobar é jornalista e correspondente de várias publicações internacionais

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    Jovens do Sul Global vão em bando para a Rússia 'isolada'

    "O Festival Mundial da Juventude de 2024 em Sochi reaviva tradição iniciada em 1957 pela União Soviética, unindo jovens além da Cortina de Ferro", destaca Pepe

    (Foto: Sputnik / Alexey Filippov)

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    Começando com o cenário incomparável – o parque Olímpico de ciência e arte, encrustado em meio a montanhas nevadas e o Mar Negro – e indo até as estrelas do espetáculo: mais de 20.000 jovens líderes de mais de 180 países, russos principalmente asiáticos, africanos e latino-americanos, bem como uma variedade de dissidentes do "jardim" ocidental obcecado por sanções.

    Entre eles, dezenas de educadores, PhDs, militantes do setor público e da cultura, voluntários em obras beneficentes, atletas, jovens empreendedores, cientistas, jornalistas cidadãos, além de adolescentes entre 14 e 17 anos, que pela primeira vez foram o foco de um programa especial, "Juntos rumo ao Futuro". Essas são as gerações que irão construir nosso futuro em comum.

    O Presidente Putin, mais uma vez, foi direto ao ponto: ele ressaltou que uma clara distinção existe entre os cidadãos do mundo – incluindo os do Norte Global – e a intolerante e extremamente agressiva plutocracia ocidental. A Rússia, um estado-civilização multinacional e multicultural, por princípio acolhe todos os cidadãos do mundo.

    O Festival Mundial da Juventude de 2024, realizado vários anos após sua última reunião, renova uma tradição que remonta ao Festival Mundial de Jovens e Estudantes de 1957, quando a União Soviética deu boas-vindas a jovens de ambos os lados da Cortina de Ferro durante a Guerra Fria.

    A ideia de uma plataforma aberta de pessoas jovens, engajadas e muito organizadas, atraídas pelos valores conservadores/familiares da cultura russa, permeia todo o festival – em forte contraste com a propaganda de relações públicas artificial e obcecada com a cultura do cancelamento da "sociedade aberta", incessantemente vendida pelas fundações hegemônicas de sempre.

    Cada dia do festival é dedicado a um tema principal. Por exemplo, 2 de março foi sobre "a responsabilidade pelo destino do mundo"; 3 de março, sobre "unidade e cooperação entre as nações", 4 de março, sobre "um mundo de oportunidades para todos".

    Nada menos que 300.000 jovens de todo o mundo concorreram às vagas de participação no festival. Selecionar um pouco mais que 20.000 foi uma tarefa difícil. Depois do festival, 2.000 participantes estrangeiros irão visitar trinta cidades russas em um programa de intercâmbio cultural. É exatamente isso que o camarada Xi Jinping descreve como "trocas de povo a povo".

    Não é de admirar que a organizadora do festival, a Rosmolodezh, o órgão do governo federal russo para assuntos da juventude, o tenha chamado de "o maior evento de jovens de todo o mundo". Sua diretora, Ksenia Razuvaeva, observou que "estamos demolindo o mito de que a Rússia é isolada".

    As ciladas da "multipolaridade assincrônica"

    O objetivo do festival é a formação de redes de contato entre grupos de jovens e de vínculos comerciais/interculturais, indo desde o nível comunitário sustentável até o nível geopolítico mais amplo.

    Tive a grande honra e responsabilidade de me dirigir a uma audiência verdadeiramente sul-globalina no pavilhão do oblast de Belgorod, a convite da Fundação Russa de Conhecimento, lado a lado com um consultor de Hyderabad, Índia.

    A sessão de perguntas e respostas foi excelente: houve perguntas de extrema perspicácia vindas de representantes do Irã à Sérvia, do Brasil à Índia, da Palestina ao Donbass. Um verdadeiro microcosmos do Jovem Sul Global, ávido por saber mais sobre o Grande Jogo geopolítico, e também sobre como os governos nacionais podem facilitar a cooperação cultural e científica internacional entre jovens.

    O Clube Valdai vem apresentando um programa diário de particular interesse no fórum, O Mundo em 2040.

    Uma oficina realizada no domingo, por exemplo, focou "O Futuro de um Mundo Multipolar", conduzida pelo excelente Andrey Sushentsov, reitor da Escola de Relações Internacionais do MGIMO, talvez a melhor escola de relações internacionais do planeta.

    A discussão sobre a "multipolaridade assincrônica" foi particularmente útil para a plateia (que contou com uma sólida presença chinesa, em sua maioria PhDs), suscitando perguntas ultra-inteligentes colocadas por pesquisadores da Sérvia, da Ossetia do Sul, da Transnistria e, é claro, da China.

    Srikanth Kondapalli, professor de estudos chineses da Universidade Jawaharlal Nehru, desenvolveu o importante conceito de "multipolaridade asiática" – as muitas Ásias dentro da Ásia, algo que deixa totalmente perplexas as simplistas categorizações ocidentais. Após a sessão, tivemos uma excelente conversa sobre ela.

    Mas nada no fórum se compara a ir de sala em sala, todas elas apinhadas, tendo um vislumbre das detalhadíssimas discussões e depois caminhar pelos pavilhões em modo networking total. Pessoas de países tão diversos quanto Sudão, Equador, Nova Guiné, Indonésia, além de um grupo de brasileiros e até um dirigente do Partido Comunista dos Estados Unidos.

    E então veio o prêmio especial: os stands das diversas repúblicas russas. E aí que se tem a oportunidade de imergir em um ritual do chá de Yamal, de receber informações em primeira mão sobre a Região Autônoma de Nenets e discutir o procedimento de embarcar em uma viagem em um quebra-gelo nuclear na Rota do Mar do Norte – ou Rota da Seda Ártica, o canal de conectividade com o futuro. Mais uma vez: a Rússia Multipolar em ação.

    Compare-se agora todo esse encontro pacífico e panglobal focado em todas as formas de programas comunitários sustentáveis, encharcados de esperança e de sonhos, ao lançamento pela OTAN de um maciço exercício bélico de duas semanas de duração apelidado de "Resposta Nórdica 2024", realizado pela Finlândia, Noruega e a novata Suécia, a menos de 500 quilômetros das fronteiras russas.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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